Como empreendedor ou profissional da área, você sabe que uma boa gestão financeira é questão de sobrevivência no mundo dos negócios. Por isso é crucial entender a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC), um dos controles contábeis mais importantes das empresas.
Na verdade, essa é uma área que costuma gerar muitas dúvidas e insegurança entre os gestores. Mais ainda na construção civil, que lida com uma enormidade de variáveis.
Entre elas, a grande diversidade de mão de obra, com diversos tipos de contratos, diretos ou terceirizados, distribuída por vários canteiros de obras, muitas vezes. E ainda os ciclos de produção muito longos, entre o planejamento, a execução e o fechamento das vendas.
Ter o perfeito controle das entradas e saídas de recursos, das receitas e das despesas numa situação dessas, requer cuidados muito especiais. Isso apenas uma boa administração do fluxo de caixa pode garantir.
Vamos ver mais detalhes sobre a DFC, já que é tão importante.
Uma das principais ferramentas contábeis
Para uma análise aprofundada e realista da saúde financeira das empresas, os gestores precisam se valer de três ferramentas contábeis principais: Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC).
Preciso alertar você para um erro muito comum
Há quem ache dispensável a DFC e que basta a Demonstração do Resultado do Exercício para saber dos lucros e prejuízos, já que tratam do mesmo período contábil.
É um grande engano, pois a DRE inclui lançamentos que não se traduzem no resultado do caixa. Você deve estar se perguntando por quê.
Acontece que a DRE trabalha apenas com o regime de competência, que exclui dados indispensáveis para a formação do caixa.
Regime de Competência e Regime de Caixa
No Regime de Competência, empregado na DRE, o registro das vendas, custos, despesas, etc, acontece na data em que aconteceram. Isto é, a contabilidade faz sua anotação na data do fato gerador, não importando quando é pago ou recebido.
No Regime de Caixa é o contrário, os documentos são registrados apenas na sua data de pagamento ou recebimento, efetivamente.
Percebeu como é grande a diferença? Por isso, não se baseie apenas na DRE para avaliar a situação do seu caixa, procure essa informação na DFC, que é a correta.
Garantia de Capital de Giro
O relatório de Fluxo de Caixa tanto mostra a situação do presente, o que se recebeu e foi pago, como o previsto para o futuro, ou seja, as famosas contas a pagar e a receber.
Assim, é possível levantar e projetar o saldo disponível, garantindo que haja o importantíssimo capital de giro na empresa.
Controles Financeiros e DFC
Para isso, a DFC mostra todas as transações ocorridas que causaram modificações no saldo do caixa.
Mas há uma regra legal para isso. A NPC – 20 (Normas e Procedimentos de Contabilidade Nº 20), de 1999, determina que esses relatórios devem registrar as transações em três contas principais:
1) Atividades operacionais: são transações que envolvem a realização do objeto ou atividade da organização. Podem ser, por exemplo, o recebimento de uma venda, pagamento de fornecedores ou pagamento dos funcionários.
2) Atividades de investimentos: transações com os ativos financeiros, aquisições ou vendas de participações em outras organizações. Também ativos utilizados na produção de bens ou prestação de serviços ligados à sua atuação.
3) Atividades de financiamentos: incluem a captação de recursos dos acionistas ou cotistas e seu retorno em forma de lucros ou dividendos. E ainda a captação de empréstimos ou outros recursos, sua amortização e remuneração.
Método Direto ou Indireto
Além disso, na preparação da DFC podem ser utilizados o Método Direto ou Indireto.
1) O Método Direto caracteriza-se por apresentar os componentes dos fluxos por seus valores brutos para os itens mais significativos dos recebimentos e dos pagamentos.
Neste método, devem ser apresentados, no mínimo, os seguintes tipos de recebimentos e pagamentos:
- Recebimento de clientes;
- Juros, lucros e dividendos recebidos;
- Pagamentos a fornecedores e empregados;
- Juros pagos;
- Imposto de renda pago;
- Outros recebimentos e pagamentos.
2) Já o Método Indireto caracteriza-se por apresentar o fluxo de caixa líquido oriundo da:
- Movimentação líquida das contas que influenciam nos fluxos de caixa das atividades operacionais, tais como estoques, contas a receber e contas a pagar.
- Movimentação líquida das contas que influenciam nos fluxos de caixa das atividades de investimentos e de financiamentos.
Isto é visto a partir das disponibilidades geradas pelas atividades operacionais. Elas são ajustadas pelas movimentações dos itens que não geram caixa: depreciação, amortização e baixas de itens do ativo permanente.
Classificação dos Desembolsos
Os técnicos da área salientam que precisam ser tomados cuidados especiais na classificação das transações nos seus respectivos grupos de atividades.
Acontece que há recebimentos ou pagamentos de caixa que podem que se enquadrar em qualquer uma das três:
- Desembolsos para pagamento a fornecedores, decorrentes de financiamentos de aquisição de bens para a produção ou venda, devem ser classificados como atividades operacionais.
- Desembolso para pagamento a fornecedores decorrentes de financiamento para aquisição de bens do Ativo Não Circulante devem ser classificados como atividade de investimento.
- Já os desembolsos para pagamento a credores referentes a empréstimos para aplicação na expansão do empreendimento devem ser classificados como atividades de financiamentos.
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Começamos, agora, a ver como analisar as informações da DFC.
Conceitos para interpretação dos dados
Para interpretar os dados que vão aparecer numa DFC, conforme o Sebrae, você precisa dominar os 5 conceitos abaixo:
1- Saldo Inicial: é o valor constante no caixa no início do período considerado para a elaboração do Fluxo. É composto pelo dinheiro na “gaveta” mais os saldos bancários disponíveis para saque.
2- Entradas de Caixa: correspondem às vendas realizadas à vista, bem como a outros recebimentos, tais como duplicatas, cheques pré-datados, faturas de cartão de crédito etc., disponíveis como “dinheiro” na respectiva data.
3- Saídas de Caixa: correspondem a pagamentos de fornecedores, prólabore (retiradas dos sócios), aluguéis, impostos, folha de pagamento, água, luz, telefone e outros, entre eles alguns descritos em nosso modelo.
4- Saldo Operacional: representa o valor obtido de entradas menos as saídas de caixa na respectiva data. Possibilita avaliar como se comportam seus recebimentos e gastos periodicamente, sem a influência dos saldos de caixa anteriores.
5- Saldo Final de Caixa: representa o valor obtido da soma do Saldo Inicial com o Saldo Operacional. Permite constatar a real sobra ou falta de dinheiro em seu negócio no período considerado e passa a ser o Saldo Inicial do próximo período.
Valores Previstos e Realizados
Veja, no exemplo abaixo do Sebrae, uma DFC bastante simples, para melhor entendimento.
Ao apresentar valores previstos comparados com o realizado (acontecido na data), o DFC mostra futuras faltas ou sobras de caixa.
Com isso, ele permite aos gestores tomar decisões antecipadas sobre aumento de compras, liquidações, racionalizações de custos e a hora certa para fazer investimentos.
Indica, até mesmo, a possibilidade de retirar mais pró-labore sem “sangrar” a empresa.
Como interpretar esse relatório do exemplo?
No primeiro dia de trabalho do mês temos como entradas recebimentos no valor de R$ 1.000,00 em dinheiro:
– R$ 500,00 em cheques pré-datados com vencimentos para o dia 2,
– mais R$ 500,00 em cartão de crédito também para o dia 2.
Nessa situação temos como total de entradas no dia considerado apenas R$ 1.000,00 referentes ao valor de dinheiro registrado pelas vendas.
As outras quantias devem ser colocadas como entradas nas datas em que se transformam em dinheiro. Ou seja, na data de compensação dos cheques pré-datados e de disponibilização da operadora de cartão de crédito.
Suponhamos que as saídas desse mesmo dia somem um total de R$ 500,00 e que nosso saldo disponível inicial seja de R$ – 500,00 na conta corrente de uma agência bancária.
Nosso saldo operacional é de R$ 1000,00 referentes a entradas, menos R$ 500,00 referentes a pagamentos ou saídas, totalizando R$ 500,00. Isto é, recebemos mais do que pagamos!
Entretanto o nosso saldo total (disponível em caixa) é de R$ -500,00 (rombo na conta bancária) mais R$ 500,00 referentes ao Saldo operacional, o que totalizaria R$ 0,00.
Assim, começaremos o próximo dia de trabalho sem saldo inicial nenhum. Vamos depender exclusivamente do movimento de vendas em dinheiro nesse dia para quitar as saídas com fornecedores que já irão ocorrer!
Numa empresa bem administrada, a última linha desse relatório deve sempre apresentar resultados positivos, indicando que há disponibilidade de caixa.
Ao identificar situações de sobra ou falta de caixa, é muito importante promover ajustes e, sempre que necessário, negociações de prazos e valores.
O relatório de Fluxo de Caixa nesse dia teria este aspecto:
Reserva de capital de giro
Você deve considerar que o saldo de caixa não indica, necessariamente, que a empresa está tendo lucro ou prejuízo nas suas atividades operacionais. Por isso, a existência do saldo final deve ser confirmada preferencialmente a cada dia.
Já saldos diários elevados, tanto negativos quanto positivos, sugerem a necessidade de melhoramentos na organização financeira.
Eles podem indicar duas coisas: financiamentos a custos elevados (saldo negativo) ou custo de oportunidade da aplicação (saldo positivo), que poderiam render juros em aplicações ou melhores condições de pagamento junto a fornecedores.
Saldos negativos devem ser bem analisados. A primeira providência é descobrir as causas: atraso nos recebimentos, alta taxa de inadimplência, queda repentina nas vendas, etc.
Esse problema também acontece quando as diferenças entre os prazos de recebimentos e os pagamentos forem altas e a empresa não se planejar com a organização do capital de giro.
Se a empresa vender muito mais em um mês do que em outro, sem se organizar, poderão ocorrer falhas no fluxo – já que os pagamentos podem ocorrer antes dos recebimentos relativos às vendas.
Portanto, é necessário ter uma reserva de capital de giro. Por outro lado, as faltas no caixa devem ser avaliadas para saber se não ocorrem devido às vendas estarem abaixo do ponto de equilíbrio.
Indispensável para a saúde financeira
Entre as principais razões de falência ou insucessos de empresa, uma delas é a falta de planejamento financeiro ou a ausência de fluxo de caixa.
Sem as projeções que o fluxo de caixa permite, a empresa não sabe quando vai precisar de um financiamento. Também não pode prever quando terá sobra de recursos para aplicar no mercado financeiro.
Essa falta de previsão traz problemas graves, como o vencimento das obrigações a pagar sem recursos disponíveis no caixa.
Ao evitar contratempos dessa natureza, a DFC se constitui num elemento indispensável para a saúde financeira das organizações e o seu crescimento no mercado.
Acredito que ficou clara para você a importância dessa ferramenta, não é mesmo? Agora, deixe seu comentário e compartilhe esse conteúdo com seus sócios, colaboradores e amigos.
Obrigado pela leitura e até o próximo artigo.
O que você precisa saber para interpretar a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) Publicado primeiro em https://www.sienge.com.br
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